TANGO SEM SAPATOS se propõe como um espaço de ensino e prática de tango, utilizando ferramentas de improvisação, dança contemporânea e teatro para ampliar os horizontes do gênero.
O tango é uma dança coletiva e social, isso significa que é um gênero que nasce da cidade, do povo. Isto implica a complexa articulação entre pessoas de diferentes lugares e classes sociais. O tango nasceu na região do Rio da Prata (Buenos Aires, Argentina e Montevidéu, Uruguai) como uma mistura entre as culturas de afrodescendentes, gaúchos, crioulos e imigrantes europeus da onda migratória do final do século XIX. Esta génese mista implica uma horizontalidade na construção, e faz com que o tango, além de ter construído – e continua a construir – códigos e modos específicos, carrega consigo a “semente” da mistura, da articulação intercultural.
Este projeto nasce das questões que surgem ao ensinar e compartilhar o tango em outras partes do mundo: Que relação um estrangeiro pode ter com o tango? Como podemos recontar uma cultura nascida em outro lugar? Isto é possivel? Quais são os pontos comuns?
“Tango sem sapatos” é uma proposta que visa abrir os horizontes do tango, sem ignorar as suas raízes. Nada que pretenda continuar pode esquecer o seu ponto de partida. Gustavo Varela, o renomado tango argentino diz: “trata-se de reconhecer a origem do tango, a terra onde ele cresce e o vento político que o move, que o desloca e que o faz ser cada vez outro, sendo o mesmo” . Sem tentar fugir ao presente e às suas inevitáveis misturas com outros géneros e disciplinas, “Tango sem sapatos” não tenta refugiar-se na tradição como algo obsoleto.
O estudo das raízes do gênero é fundamental para saber o ponto de partida onde começa a mistura (que já ocorre naturalmente). Então, será possível, no caminho da aprendizagem dos elementos que fazem do tango o que ele é (seus códigos, sua música, sua letra e seu jeito de dançar) deixar as portas abertas para a articulação com outras linguagens?
Uma vez que o tango saiu de seu berço e migrou para outros países da América, Europa e Ásia, focar no encontro com o que o tango pode levar dessas culturas para evoluir ou mudar é a única coisa que pode fazer com que o tango continue a ser uma cultura coletiva e social. gênero.
Em outros países, a articulação do tango com outras disciplinas e culturas é mais uma vez inevitável. O que pode acontecer no encontro entre o tango e o folclore tradicional europeu? O que acontece no encontro entre o tango e o fado? O que pode acontecer no encontro entre a kizomba e o tango? etc etc.
Com base nos alicerces que constroem este projeto, as suas atividades consistem na partilha de oficinas e aulas de tango lideradas por Janice Iandritsky, bem como na organização de milongas, ciclos e práticas, coordenadas por Janice em colaboração com outros bailarinos e músicos.
“Tango sem sapatos” trabalha com a ideia da simultaneidade de relações que existem no tango: o coletivo (os outros), o casal (o outro), a música e o próprio corpo. Esses eixos são sempre trabalhados em aulas regulares e oficinas.
La Pina Submarina, Valência, 03/2023
InTango, HangZhou (CHN), 2023